"Sempre é tempo de construir!" (Machado, A.C.)
Nos dias de hoje, segundo dados do IBGE, 8,6% da população brasileira é constituída de pessoas com idade acima de 60 sendo que a maioria é de mulheres as quais vivem, em média, oito anos mais do que os homens. Nos próximos 20 anos a população idosa em nosso país deverá ultrapassar os 30 milhões, chegando a quase 13% da população.
Fala-se da terceira idade como melhor idade. No entanto, sabe-se que existem, ainda, preconceitos que cercam a velhice como, por exemplo:
- na velhice perde-se interesse por diversos aspectos da vida, antes importantes.
- a velhice é triste.
A partir daí, criam-se os "contra mitos" que podem ser igualmente opressores, na medida em que frequentemente o idoso não consegue estar à altura deles como, por exemplo:
- o velho pode manter todas suas capacidades, se exercitar como anteriormente, só depende dele.
Existem algumas recompensas, mas o fato é que as perdas deste período são muitas e são inevitáveis. O mais importante é entender as mudanças que ocorrem, tratar de cuidar do corpo, da mente, das relações de amizade e afeição, bem como da sexualidade, visando a obter os melhores benefícios possíveis.
Na atualidade, tem-se ganhos com novos medicamentos e, portanto, um resgate a saúde em diversos âmbitos da vida: acesso a estes recursos fazem toda a diferença para melhorar a qualidade de vida.
Profissionais especializados podem auxiliar e orientar de forma a ampliar as possibilidades muitas vezes desconhecidas pelos idosos.
Sabe-se, ainda, que a forma como muitos vêem a terceira idade na nossa cultura não valoriza a combinação velhice/amor, a menos que este amor seja materno, paterno ou de avós, pois o erotismo não é definitivamente transparente para a terceira idade.
Uma mudança está se iniciando, mas ainda bastante lenta.
Podem-se perceber diferenças importantes entre a vida sexual do idoso que tem um parceiro e a daquele que não tem, a começar pelo olhar das pessoas que observam um "casal de velhinhos" de maneira enternecedora, enquanto que um "velho" saindo em busca de um par pode ser visto como ridículo ou inadequado. Também a proximidade de idades modifica o olhar de quem observa: um par da mesma idade tende a ter melhor aceitação. Se o homem é o mais velho, o olhar vai da admiração ao deboche (dependendo da diferença de idade e de quem olha). Situações em que a mulher é a mais velha têm pior aceitação.
Outro aspecto inevitável da velhice é algum grau de isolamento social. O autor Sluzki chamou de "extinção da galáxia" quando os amigos vão morrendo. O isolamento social em que muitos idosos se encontram é fator crucial para a vida afetiva, isolamento este que pode, muitas vezes, levar a tristeza e até depressão.
Pensando então, sobre os dados do IBGE expostos acima, que no Brasil as mulheres têm uma expectativa de vida de oito anos mais do que os homens, verificamos que o fato mais relevante na construção do amor na terceira idade é a desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres.
Houve ainda um aspecto reconhecidamente importante, não só para o idoso, mas para toda a população em geral, que é a aceleração da tecnologia em espaço de tempo muito curto e a globalização na medida em que ambas marcam os tempos atuais de maneira importante.
Os que agora são "velhos" chegaram à adolescência antes da década de 60, que foi marcada pelo advento da pílula e conseqüente revolução sexual, que sepultou a moral vitoriana.
A tecnologia que mudou o mundo também está garantindo melhor qualidade de vida na terceira idade, mas é o relacionamento social que realmente garante vida afetiva e melhor sexualidade na velhice.
Zimerman, G. (2000) Velhice, aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: ArtMed
Sluzki, C. (1997) A rede social na prática sistêmica.
Nira Lopes Acquaviva psicóloga, psicoterapeuta individual, de casal e família. Coordenadora, supervisora e docente do DOMUS
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