A reportagem abaixo evidencia que, cada vez mais, buscamos respostas externas para nossas dificuldades internas: a dificuldade em buscar dentro de nós a solução para nossos problemas nos faz ter uma atitude de delegar para a sociedade uma resolução dos mesmos.
Frequentemente esquecemos que o que somos é, dentre outros fatores, fruto de uma construção pessoal e única vinda do meio em que fomos criados, dos afetos que recebemos desde nosso nascimento, da proposta da nossa concepção e que isto não tem como ser avaliado no externo para ser solucionado de fora para dentro.
Podemos fazer parcerias na vida, mas não podemos jamais ignorar o que nos cabe. Leiam abaixo a reportagem e tirem sua própria conclusão: EUA discutem aprovação de "viagra feminino" Especialistas estão divididos sobre eficácia de pílula que estimularia libido das mulheres.
WASHINGTON - O Estado de S.Paulo, 25 de maio de 2010.
Uma comissão instituída pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão controlador de remédios e alimentos nos Estados Unidos, reúne-se no próximo mês para discutir a aprovação para venda da primeira pílula concebida para fazer para as mulheres o mesmo que o Viagra fez para os homens: estimular sua vida sexual.
Um laboratório alemão pretende colocar no mercado a droga (cujo nome, "flibanserin", nada tem de sexy), que desperta o desejo sexual feminino acionando sua química cerebral.
A perspectiva de aprovação do medicamento vem provocando um intenso debate se a pílula representa o avanço há muito tempo procurado no campo da igualdade entre os sexos - afinal, a sexualidade da mulher é mais complicada que a do homem - ou se é apenas mais uma jogada do setor farmacêutico de fabricar uma droga potencialmente desnecessária. O mercado estimado para o flibanserin é de US$ 2 bilhões somente nos EUA.
Desenvolvido como um antidepressivo, o medicamento flibanserin era ineficaz no tratamento da depressão, mas parecia produzir um efeito colateral inesperado: aumentar a libido feminina. Esse fato levou o laboratório Boehringer Ingelheim a estudar o medicamento para outro fim, o transtorno do desejo sexual hipoativo, conhecido como HSDD (sigla em inglês) - uma inexplicada perda de fantasias, desejos e pensamentos sexuais que pode provocar problemas emocionais sérios.
Placebo. Até agora, o laboratório patrocinou estudos que envolveram mais de 5 mil mulheres em idade fértil (dos 18 aos 50 anos), nos Estados Unidos, Canadá e Europa, em que a doença tinha sido diagnosticada.
Uma dosagem de 100 miligramas diárias do remédio aumentou o número de experiências sexuais satisfatórias em relação ao que essas mulheres tinham informado antes da medicação - um parâmetro-chave que a FDA estabeleceu para esse tipo de droga -, de uma média de 2,7 para 4,5 em comparação com 3,7 entre aquelas que receberam um placebo.
Para muitas mulheres, a diferença é significativa, mas os críticos ridicularizam a diferença, taxando-a de desprezível. Eles alegam que o setor farmacêutico teve um papel central na definição da HSDD como desordem psiquiátrica oficial e exagerou seu escopo financiando pesquisas.
"As pessoas acham que estão doentes quando não estão. As pessoas se tornam pacientes quando não precisam ser", adverte Ray Moynihan, da Universidade de Newcastle, na Austrália.
Para muitas mulheres, a diminuição do desejo sexual faz parte da idade e é normal. Para outras, pode ser sinal de outros problemas de saúde, de uma relação disfuncional ou mesmo por causa de um parceiro agressivo.
Além dos potenciais efeitos colaterais de longo prazo, que só ficarão claros depois que um número muito maior de mulheres tomar a pílula por muitos anos - como ocorre com a terapia de reposição hormonal -, algumas pessoas temem que o medicamento torne as mulheres vulneráveis a abusos.
"Ele vai fazer com que a mulher deseje um parceiro agressivo?", indagou Liz Canner, cineasta que produziu o documentário Orgasm Inc, sobre o papel do setor farmacêutico no desenvolvimento de drogas para problemas sexuais femininos. "Vai nos fazer desejar qualquer tipo que passe pela nossa frente?"
Michael Sand, diretor de pesquisa clínica do flibanserin, contesta. "A noção de que se trata de uma armação da indústria farmacêutica é errônea. A questão da sexualidade feminina não é nova. É um problema que as mulheres sofrem há muito tempo."
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